O Escultor da Vida
 
Hoje um dia qualquer levantei cedo.
Será a mesmíssima rotina de minha vida.
O relógio corre atrás do tempo e eu atrás da vida.
Sempre com o meu relógio sem ponteiros.
Apenas, consciente do dia e da noite.

Vi-me caminhando por ruas estreitas ou largas,
nuas da noção extravasadas e enganadoras.
Existindo à toa e a mercê dos morcegos cegos dos olhos

Tais políticos antigos

Às vezes o vento falava comigo
Pássaros tentavam indicar-me segurança
Minha mão trêmula e dedos inertes,
e meu relógio que não sabe marcar a hora.
O dia se esvai, hora de dormir.
O céu veste seu roupão negro,

Apenas sobrevivi nesse canto da vida,
a sensação ávida de saber-se vivida
E se meu amanhã for hoje?
Aos meus ponteiros cabe-me
fazer uma proposta.

Serei o escultor do meu tempo.
Sim, esculpir com demência minha permanência
Só depende de mim, aplicar com arte
viver, amar, trabalhar.
Sim, a despeito de atos e fatos
Exerço com jeito a mania de insistir

Sim, só depende de mim, existir...

Marcos Milhazes***

 
Midi - Romance de Amor - Antonio Rovira
 
 
 
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