O RITO DO CLARÃO
 
Ariovaldo Cavarzan
 
O tempo das lágrimas se foi,
exaurido em lidas de afetos,
em adereços de calmaria e dor
e enredos de sonhos concretos.
 
Caravana de arautos e suas trombetas,
proclama o esperado fim
e a mansa chegada da paz.
 
À ansiosa quietude de agora,
sobrevém suave vibração,
 recompondo lembranças de outrora.
 
Canoro é o canto das aves
que levam para longe
derradeiros resquícios de amor,
guardados em corações combalidos,
desvestidos de fantasias e ilusões. 
 
Diáfanos vultos se desenham no ar,
moldando fumacentos filetes,
que bailam ao sopro
da aragem, ordenando o caos
e outorgando formas nervosas
a imagens de tempos idos,
coreografando um rito de conclusão.
 
Descompassadas batidas
ainda fazem pulsar corações,
em estertores de hora fatal.
 
Não se chorem agora os mitos do amor.
O ensejo das lágrimas passou,
e é chegado o instante da ansiada inércia,
na mansa paz dos vividos na dor.
 
Silhuetas de fumaça flutuam no ar.
 
Vem chegando o cortejo de arautos
e suas trombetas,
proclamando o final.
 
As aves canoras já foram embora
e um clarão no horizonte
anuncia a chegada da hora de descansar.
 
06/10/2009  
 

Midi - Per Amore - Mariella Nava

 

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